sexta-feira, 26 de março de 2010

Brasília por um Autor-Arquiteto - Prof. Altamiro



Num gesto primário de quem marca o encontro de dois eixos, Lúcio Costa planejou uma Brasília moderna, voltada para o futuro com um conceito simples e de fácil entendimento.

Separando as funções administrativas das cotidianas, através dos dois eixos, monumental e rodoviário, revelando uma cidade especializada internamente, marca da monofuncionalidade encontrada em políticas de planejamento urbano. O plano compõe as áreas residenciais através de super-quadras, atendidos por comércio e serviços; uma interação das divisões urbanas (a monumental, a residencial/comercial, a administrativa) com uma estrutura viária integradora, livre de cruzamentos; um modelo residencial inovador; a orla do lago ampla e desobstruída; a importância do paisagismo densamente arborizado; um destaque para o céu valorizando o projeto; e o não alastramento suburbano através da criação de cidades satélites e zonas rurais interligadas.

Mas planejar uma cidade significa, acima de tudo, prever que a mesma crescerá a exemplo de outros grandes centros urbanos. Com a construção da nova capital, promessas de emprego e vida melhor, a migração para o Distrito Federal foi inevitável. O planejamento urbanístico de Lúcio Costa previa 500 mil habitantes no ano 2000, ano no qual a cidade chegou a 2 milhões de habitantes, quatro vezes mais que o planejado.

Com o crescimento do número de migrantes e com a área residencial sendo destinada essencialmente para os funcionários públicos, Brasília enfrenta um de seus primeiros dilemas: enquanto o Plano Piloto concentrava atividades políticas e econômicas e populações de alta renda, combinação que se refletia também em uma concentração de empregos, as cidades satélites abrigavam parcelas cada vez maiores de população e se caracterizavam como cidades-dormitórios, meros assentamentos de trabalhadores da nova capital federal.

Nas cidades brasileiras em geral a densidade demográfica diminuía do centro para os bairros, como era previsto no projeto, mas o Plano Piloto permaneceu com inúmeros vazios, enquanto o número de habitantes tornou-se maior nas cidades satélites. Características encontradas em outras cidades planejadas, como Belo Horizonte, com propostas urbanísticas semelhantes. O caráter de centralidade do Plano Piloto crescia à medida que se desenvolvia, aumentando a dependência das satélites à essa concentração administrativa, comercial e do lazer dos habitantes da Capital.

Os projetos arquitetônicos destaques da cidade, em maioria de autoria de Oscar Niemeyer, acompanham os objetivos do Urbanista Lúcio Costa, e revelam os interesses políticos e administrativos da nova Capital. Com grandes gramados verdes, avenidas largas e espaços vazios ao longo da cidade, as funções são bem divididas no contexto urbano. À medida que essas características, apoiadas pela monumentalidade dos edifícios, cria lugares dando a esses espaços um sentido e uma identidade que o homem cria com eles; elas também criam não-lugares, espaços que se analisados pela relação que os indivíduos têm com esse espaço, não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico, construídos para certos fins (comércio, transporte e o lazer), mas que criam uma tensão solitária.

“Os não-lugares da modernidade passam a ser lugares onde as pessoas têm o seu comportamento padronizado (...) lugares que servem como meio para nossos fins, locais de passagem.”



Para imaginar uma Brasília que poderia ter sido diferente alguns dos projetos urbanos para a nova capital que concorreram com o de Lúcio Costa, em concurso para escolha do Plano Piloto de Brasília:

- Em segundo lugar ficou o projeto de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves.




"Previa uma cidade governamental com desenvolvimento controlado (máximo de 768.000 hab.) e satélites urbanos cujo crescimento seria de flexibilidade ilimitada. Foi suposto que em 2050 a cidade teria 673.000 habitantes. "

- Em Terceiro lugar ficou o projeto de Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar e L.R. Carvalho Franco.



"Não previa satélites. A população máxima prevista era a mesma do edital do concurso (500.000 hab.). Edifícios residenciais gigantescos, com 16.000 residentes cada um com seis setores de 3 superblocos, com uma população total, apenas nestes 18 edifícios, de 288.000 pessoas. Cada bloco teria centenas de metros de altura, e utilizaria 60.000 toneladas de aço.

Uma cidade para se andar a pé. Como a maioria da população seria concentrada num raio de pouco mais de 1 km, previa-se que o acesso dos residentes dos superblocos à maioria dos edifícios públicos seria feita a pé. "O uso da marcha a pé em maior escala que nas outras cidades traria uma multiplicação dos contatos entre a população, unindo o indivíduo à sua comunidade."

Fontes e citações:

http://egal2009.easyplanners.info/area05/5158_da_Costa_Frazao_Dulciene.pdf
www.arquitetura.eesc.usp.br/revista_risco/Risco5-pdf/art_1_risco5.pdf
http://herancacandanga.blogspot.com/

quarta-feira, 24 de março de 2010

Garimpo de Belo Horizonte - Prof. Hamilton

Muitos são os fatores que determinam uma cidade. As diferenças, contrastes, particularidades de cada lugar caracterizam o espaço urbano, suas interações e ajustes ao longo do tempo.

As necessidades que surgem a cada dia determinam uma composição de espaços com suas diferentes funções dentro do contexto urbano. Como uma capital, Belo Horizonte possui a imagem de cidade desenvolvida, o que atrai muitas pessoas que percebem na cidade a possibilidade de um emprego melhor ou oportunidade nos estudos, o que proporciona uma heterogeneidade na composição desse espaço e permite que se faça uma análise do espaço, introduzindo alguns conceitos facilmente identificados na cidade.
Cada lugar com sua determinada função e obrigação de atender às necessidades de seus componentes formam espaços que apesar de próximos fisicamente, se tornam partes distantes em suas características ou funções, espaços heterotópicos. Do mesmo modo a cidade cria isotopias, partes comparáveis do espaço, que se aproximam em suas características.

Um exemplo de heterotopia seria a questão do contraste social e/ou visual encontrado em algumas áreas da cidade, componentes diferenciados dividindo o mesmo ambiente. Ou talvez a herança histórica registrada nas ruas da cidade. Prédios mais antigos, como as Igrejas, que se misturam a arquiteturas contemporâneas de diferentes características. São construções que têm a propriedade de atribuir novas significações aos espaços, que se instauram em um lugar como diferença em relação à realidade do ambiente.

Imagens da Igreja de Lourdes, se destacando com sua arquitetura histórica em meio a várias construções contemporâneas , e de duas realidades sociais distintas dividindo a mesma paisagem, de um lado o Bairro Santo Antônio e do outro o Morro do Papagaio.

Já alguns bairros servem com exemplos de espaços isotópicos dentro da cidade.

Imagem da Comunidade Alto Vera Cruz à esquerda e Morro do Papagaio à direita. Bairros que se encontram em diferentes pontos da cidade, mas que se assemelham em suas características e apresentam condições de vida similares.

Uma análise mais abrangente das isotopias da cidade seria compará-la a uma outra capital qualquer. Com ruas, avenidas, Shopping Centers, que se assemelham não só em suas características físicas, como também em sua funcionalidade. Como exemplo os aeroportos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.

Imagens do Aeroporto Internacional de Confins e do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, próximos em sua arquitetura e funcionalidade.

Entre as isotopias e heterotopias encontramos os espaços neutros, lugares de passagem, avenidas, cruzamentos, que fazem a separação/união entre esses ambientes.

Na imagem a Avenida Afonso Pena separando duas realidades: o Parque Municipal e os edifícios.

É importante lembrar o caráter dinâmico e relativo desses conceitos. A constante mudança do espaço e das relações que nele ocorrem, de acordo com os interesses, necessidades e possibilidades de mudança, permitem diferentes olhares a respeito de um mesmo ambiente. Um bairro nobre pode ser isotópico em sua unidade e, estando cercado por bairros de níveis sociais mais baixos, seja analisado como uma heterotopia inserindo uma diferença naquele ambiente.