Num gesto primário de quem marca o encontro de dois eixos, Lúcio Costa planejou uma Brasília moderna, voltada para o futuro com um conceito simples e de fácil entendimento.
Separando as funções administrativas das cotidianas, através dos dois eixos, monumental e rodoviário, revelando uma cidade especializada internamente, marca da monofuncionalidade encontrada em políticas de planejamento urbano. O plano compõe as áreas residenciais através de super-quadras, atendidos por comércio e serviços; uma interação das divisões urbanas (a monumental, a residencial/comercial, a administrativa) com uma estrutura viária integradora, livre de cruzamentos; um modelo residencial inovador; a orla do lago ampla e desobstruída; a importância do paisagismo densamente arborizado; um destaque para o céu valorizando o projeto; e o não alastramento suburbano através da criação de cidades satélites e zonas rurais interligadas.
Mas planejar uma cidade significa, acima de tudo, prever que a mesma crescerá a exemplo de outros grandes centros urbanos. Com a construção da nova capital, promessas de emprego e vida melhor, a migração para o Distrito Federal foi inevitável. O planejamento urbanístico de Lúcio Costa previa 500 mil habitantes no ano 2000, ano no qual a cidade chegou a 2 milhões de habitantes, quatro vezes mais que o planejado.
Com o crescimento do número de migrantes e com a área residencial sendo destinada essencialmente para os funcionários públicos, Brasília enfrenta um de seus primeiros dilemas: enquanto o Plano Piloto concentrava atividades políticas e econômicas e populações de alta renda, combinação que se refletia também em uma concentração de empregos, as cidades satélites abrigavam parcelas cada vez maiores de população e se caracterizavam como cidades-dormitórios, meros assentamentos de trabalhadores da nova capital federal.
Nas cidades brasileiras em geral a densidade demográfica diminuía do centro para os bairros, como era previsto no projeto, mas o Plano Piloto permaneceu com inúmeros vazios, enquanto o número de habitantes tornou-se maior nas cidades satélites. Características encontradas em outras cidades planejadas, como Belo Horizonte, com propostas urbanísticas semelhantes. O caráter de centralidade do Plano Piloto crescia à medida que se desenvolvia, aumentando a dependência das satélites à essa concentração administrativa, comercial e do lazer dos habitantes da Capital.
Os projetos arquitetônicos destaques da cidade, em maioria de autoria de Oscar Niemeyer, acompanham os objetivos do Urbanista Lúcio Costa, e revelam os interesses políticos e administrativos da nova Capital. Com grandes gramados verdes, avenidas largas e espaços vazios ao longo da cidade, as funções são bem divididas no contexto urbano. À medida que essas características, apoiadas pela monumentalidade dos edifícios, cria lugares dando a esses espaços um sentido e uma identidade que o homem cria com eles; elas também criam não-lugares, espaços que se analisados pela relação que os indivíduos têm com esse espaço, não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico, construídos para certos fins (comércio, transporte e o lazer), mas que criam uma tensão solitária.
“Os não-lugares da modernidade passam a ser lugares onde as pessoas têm o seu comportamento padronizado (...) lugares que servem como meio para nossos fins, locais de passagem.”
Para imaginar uma Brasília que poderia ter sido diferente alguns dos projetos urbanos para a nova capital que concorreram com o de Lúcio Costa, em concurso para escolha do Plano Piloto de Brasília:
- Em segundo lugar ficou o projeto de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves.
"Previa uma cidade governamental com desenvolvimento controlado (máximo de 768.000 hab.) e satélites urbanos cujo crescimento seria de flexibilidade ilimitada. Foi suposto que em 2050 a cidade teria 673.000 habitantes. "
- Em Terceiro lugar ficou o projeto de Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar e L.R. Carvalho Franco.
"Não previa satélites. A população máxima prevista era a mesma do edital do concurso (500.000 hab.). Edifícios residenciais gigantescos, com 16.000 residentes cada um com seis setores de 3 superblocos, com uma população total, apenas nestes 18 edifícios, de 288.000 pessoas. Cada bloco teria centenas de metros de altura, e utilizaria 60.000 toneladas de aço.
Uma cidade para se andar a pé. Como a maioria da população seria concentrada num raio de pouco mais de 1 km, previa-se que o acesso dos residentes dos superblocos à maioria dos edifícios públicos seria feita a pé. "O uso da marcha a pé em maior escala que nas outras cidades traria uma multiplicação dos contatos entre a população, unindo o indivíduo à sua comunidade."
Fontes e citações:
http://egal2009.easyplanners.info/area05/5158_da_Costa_Frazao_Dulciene.pdf
www.arquitetura.eesc.usp.br/revista_risco/Risco5-pdf/art_1_risco5.pdf
http://herancacandanga.blogspot.com/